Vai comer ou levar pra casa?

Entrei no puteiro era antes da meia noite. Local com poucos homens e bastante mulher bonita. Seria a minha noite de sorte. Carteira cheia, casa cheia. Pedi Campari, com gelo e laranja.

Cheguei ao camarada da casa e perguntei a ele o nome da morena do sofá verde. Essa é Carmem, mas se ou fosse o senhor nem dava ideia. Ela é a protegida do Arantes, o atacante do Santos.

E a ruiva dançando no palco, tem jeito? Essa é do Mário, da novela das oito, sabe patrão, eu não ia não.

Sem problemas, eu disse, e comecei a encarar a mulata vistosa e brilhante no balcão. Não, provavelmente não era verdade. Ela sorria marotamente para mim. Vai não, senhor, disse uma voz mansa perto da minha orelha esquerda. Era o camarada do puteiro. Essa aí, chefe, é do Tarcísio, o trafica lá do morro. Comeu, morreu!

Temos aquela loirinha ali, disse o camarada. Era a mais bela moça que já vi em toda São Paulo. A mais gostosa das deusas da noite.

Perguntei ao camarada por que motivo ela estava ali, abandonada, sozinha, solteira. Não é de ninguém? Camarada suspirou, aproximou-se e, pertinho do meu ouvido esquerdo, contou: Essa aí era do Vinicius, ninguém chega perto.

Que Vinicius?

Vinicus de Moraes, respondeu.

Mas, caralho, o cara morreu faz 35 anos, como é que ela está assim, conservada e toda gostosa?

Isso aqui é um sonho, ô pá. Vais comer aqui ou levar pra casa?

Acordei, tomei um banho, dois comprimidos, e fui trabalhar.

(por pastor Cláudio)

Foto: Reprodução/www.campari.com

 

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